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Hanna Litwinski

Egotrip assumida e maionese invejada: o meu processo de escrita

Posted on julho 31, 2018maio 11, 2020

Eu não tenho imaginação. E isso me faz uma falta danada para a atividade que resolvi desenvolver: escrever. É como se eu fosse uma espécie sommelier sem olfato. Amputada, circunscrita, tendo de lançar mão de outros artifícios para tentar compensar a minha inabilidade natural.

Tudo que o dedo digita vem carregado de uma boa dose de verdade. Bom, verdade não é a melhor definição. Quero dizer que quase tudo é fato, quase sempre aconteceu timtim por timtim, com um pouquinho do colorido que a escrita consente. Escrever não é tarefa que se faça sem esforço, para a grande maioria das pessoas.

A palavra é traiçoeira, se nega quando você mais precisa dela. Falseia, te passa rasteira e te põe em maus lençóis quase sempre. O assunto, os argumentos e a organização de ideias sempre me veem de forma absolutamente inconveniente. Contrações perturbadas que causam um reboliço indelicado. Quase sempre de madrugada, ruminando um acontecimento qualquer que pilha meu sono e me faz travar uma luta estéril. Não adianta resistir, a escrita é imperativa.

Não existe nada de poético na famigerada inspiração. Ela está mais próxima a uma cena possessão do capiroto do que de um oceano fulgurante. A inspiração é invasiva, uma espécie de cólica insistente. Não tem outro remédio a não ser ceder as suas vontades, levantar da cama quentinha, catar o notebook e pôr-se a seu serviço. Carregando a certeza triste de que o dia seguinte há de cobrar essas horas arrebatadas. Até aí tudo bem, já aceitei esse pacto. Mas não satisfeita de sua impropriedade, para mim o processo de escrita tem que vir tipo trilha sonora de Marília Mendonça: a peleja numa esfera testemunhal.

Eu fico morrendo de inveja de quem inventa histórias, dessa tal capacidade criativa. Personagens, enredos e tramas. Um roteiro de novela, um romance, uma fábula, um conto da carochinha qualquer. Alguma coisa desconectada do real. Tenho um desejo enorme de ter algum tipo de asinha, mesmo que meio capenga.

Uma vez ouvi de uma pessoa próxima que, ao sair para o trabalho de manhã, entrava no carro e se imaginava numa espaçonave. Então estabelecia missões a cumprir ao longo do seu percurso. Isso me causa inveja. Muita. Se eu tentasse fazer isso provavelmente já travaria na parte de abastecer a espaçonave ou qualquer outro problema ordinário.

Vou tentando me conformar com o fato de ser uma contadora de casos, por mais que me esforce para dar um gira na maionese, fica puxado, não fica eu. Sou daquelas árvores de raízes tão fortes que quebram a calçada. Neurose obsessiva, ansiedade desmedida e outros temperos. Mas acredito que você não escolhe sobre o que vai escrever, e sim o contrário. O lado bom dessa minha egotrip genuína é poder revisitar vivências e está constantemente aprimorando o meu senso de humor. Porque se não rolar autocrítica, acabo virando uma espécie de Pelé.

O que tem me ajudado bastante atualmente é o fato de que a realidade tem dado olé na ficção, então às vezes posso fingir inventividade. Mas se outra oportunidade eu tiver quero nascer Júlio Verne, que fique aqui registrado o meu protesto.

Este texto foi publicado originalmente em: guaja.cc

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