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Hanna Litwinski
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Hanna Litwinski

226-8564 pra sempre vai tocar

Posted on outubro 18, 2018janeiro 16, 2019

Foi nessa combinação numérica que eu finquei a minha infância. Um número de telefone que eu vou me lembrar pra sempre. O chamado do primeiro grande amigo. Amizade feita de um amor distraído, um amor só pelo amor que mora na inocência.

A gente se conheceu voltando da escola. E aí colou, como que por geração espontânea brotou ali a minha melhor amiga. Nós éramos muito diferentes e isso ficava evidente.

Ela linda, eu insegura. Ela vigorosa, eu cerebral. Ela magnética, eu estranha. Ela coragem, eu atravanco. Ninguém entendia muito bem de onde tinha saído aquele laço e isso não tinha a menor importância como toda coisa que não cabe explicação; se instala no peito da gente e parece que esteve ali desde sempre.

Um dia ela arrumou um coelho e resolveu chamar de Hanna.

Achei muito descabido dar o “meu” nome pro bicho. Pensei que era deboche e precisaria de tempo pra entender que se tratava de estimação. Vivemos todos os clichês que uma amizade menina pode oferecer. Intermináveis brincadeiras de rua com suor molhando a nuca e escorrendo pela testa. O vento no rosto na garupa da bicicleta. Misturas estranhas como pão, margarina e Nescau que ela me ensinou a gostar. Tão improvável como eu e ela.

A gente foi crescendo e complicando a vida como costuma acontecer. Mudei de escola, de bairro e de opinião. Percebi que a cola ia ficando mais fraca e os interesses dispersos. Por conta dessas coincidências estranhas eu e ela tivemos que virar gente grande no susto e fomos tocando a vida do jeito que dava. E a amizade também.

Comemoramos a chegada dos 30 juntas com fotos no telão e a Calcanhoto cantando “avião sem asa”. Só que aos pouquinhos o “eu sem você” foi ficando embaçado, soando diferente. Eu sou daquelas pessoas com parcos recursos pra improvisação quando as coisas saem do curso, então você pode imaginar o tamanho da minha angústia com essa constatação.

Um dia tomando vinho e coragem mandei uma mensagem pra ela apontando para o engano daquela situação. Como assim a gente não se fala mais? Vamos marcar de encontrar! Eu te amo, você me ama, então porque a gente não se encaixa? Um desespero bêbado e náufrago. A resposta veio com uma maturidade que eu nunca tinha enxergado nela. Me ensinou sobre os rumos distintos que as vidas tomam e que estava tudo bem, isso não significava desafeto. Falou que o meu lugar estava guardado nela e que nada na vida podia tirar.

Fiquei em silêncio ruminando um sentimento azedo de desdém.

Era difícil assumir que uma amizade dessa grandeza pudesse chegar ao fim, tão espontaneamente como começou. Precisei de tempo, humildade e muito brio para compreender que não se tratava de um pontapé, mas outra afirmação de amor. Você, minha primeira grande amiga, me ensinou que as relações têm tempo e espaço e isso não tira a grandeza delas, ao contrário, reconhecer isso é a forma mais bonita de honrá-las.

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