Um expresso tem o seu destino e segue na direção dele fazendo paradas certeiras para abastecer-se de gente em movimento.
Dia desses peguei o trem e não tinha noção do quão surpreendente seria a viagem. Começando pela recepção. O maquinista pai nos apresentou a instalação, o conceito e fez o convite para entrar na sua casa. Sim, a família mora ali, portanto não somos apenas clientes; somos hóspedes. Subimos até o terraço onde fica a estação de embarque, agradavelmente decorada de relíquias e afeto.
Tudo funciona integrado, sustentável e repleto de sentido(s). A energia circula na água, no vento, na horta e até na cerveja; acreditem. E ali, nesse ecossistema sensorial conhecemos os outros passageiros e uma tripulação afinada que nos fez sentir parte integrante da jornada.
Estreamos um menu degustação que não poderia ter um nome mais apropriado: Alquimia. Numa mistura de técnica, alegoria e diversão, desfilou a sequência de oito pratos formando uma bela composição. Um elegante fio condutor unia coisas tão nossas; minhas, Minas. A terra generosa oferecendo o milho, a banana e a versatilidade da mandioca. O peixe dos nossos rios opulentos. Maria gondó e taioba cheirando à quintal de vó. Um trem danado! Aliás, eu poderia escrever um causo pra cada cousa que, de tão carregadas de sentido acabavam provocando um sentir-nos.
O menu foi uma combinação de química e memória. E justo na saideira veio o golpe mais forte. Num tachinho de cobre se aninhava o doce de queijo da minha infância. Bolinhas encantadas que meu pai trazia fortuitamente das suas andanças pelo interior. Aí a saudade gritou alto e talhou o coração, naquela mistura estranha de dor com alegria.
O responsável por isso tudo (minhas lágrimas incluídas) é um rapaz chamado Bruno Guimarães. Chef com chapéu e doma tinindos e inacreditáveis vinte e quatro anos. Vinte e quatro anos, repito. Um sorriso tímido, mas orgulhoso. Talvez ele não alcance a extensão do que nos proporcionou naquele jantar. Ou talvez saiba exatamente o que está fazendo. Desconfio que esse moço tenha mesmo encontrado o elixir da vida e é na verdade um ancião sabido. Trata-se de um exímio provocador das melhores emoções humanas, que com seus truques de alquimista fez esbugalhar os olhos e o coração da plateia.
(Preparem a bagagem emocional para o embarque no Expresso 500. As saídas são às quartas feiras, a partir de hoje. Como fui passageira de primeira viagem não sei informar os preços e os horários.)














