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Hanna Litwinski
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Hanna Litwinski

Discutindo a relação: Bemvindo e eu

Posted on dezembro 14, 2017janeiro 21, 2019

Antes que se enveredem nessa resenha devo alertar que as impressões registradas aqui podem não corresponder fidedignamente à realidade, uma vez que, foram feitas sob efeito de álcool, em quantidades generosas.

Esclareço. Tratava-se de um encontro de amigas, um quarteto fantástico. O restaurante em sociedade com o capeta inventou um tal rodízio de vinho, ao custo de R$39.

Uma excelente ideia, não?  Vinhos de qualidade razoável, mas que cumprem dignamente a promessa de embalar os papos e as risadas ao longo da noite.

Seria uma boa ideia. Seu eu tivesse educação. Resultado? Copo cheio; cara cheia.

Pulemos essa parte e vamos começar a nossa D. R.

Lembro da inauguração do Benvindo, num pequeno e charmoso espaço na rua São Paulo, no coração de Lourdes. A cozinha comandada pelo chef proprietário Paulo Henrique Vasconcelos não tocou meu coração.

Apesar de se denominar um bistrô francês, o chef, à época, se deixou seduzir por técnicas da culinária molecular e outras invencionices cujos os nomes impressionam, mas pouco agregam ao resultado final. Cozimento à baixa temperatura, espumas a dar com pau, show de gelo seco e por aí vai. Não me entendam mal. Longe de mim ser purista ou contrária ao desenvolvimento de técnicas distintas. O que eu gosto é de comida boa e os meios devem justificar os fins e não serem eles próprios o objetivo final

Tratava-se de um menu perdido com muita informação e pouca personalidade. Mas a nossa Belzonte, rocinha querida com o seu provincianismo peculiar, adorou o bristôzinho metido à besta.

Lourdianas e lourdianos em frenesi celebraram a novidade e trataram de colocar a casa no hall dos lugares sagrados and blindados (ainda escreverei um post sobre isso quando estiver com paciência de fazer a mulçumana adultera disposta a recolher as pedras lançadas).

Dessa forma, o que não foi uma boa primeira impressão tronou-se antipatia. Rancinho mesmo. Virei as costas e segui a vida.

Alguns anos depois voltei e comi um menu executivo.

Arrependimento tamanho GG. O peixe parecia frango e o picadinho de filet tinha consistência de moela. Pensei: nossa! Mas as técnicas moleculares por aqui andam mais avançadas que comida de astronauta!

Mas na real era só comida ruim mesmo, de um lugar que cheirava a naftalina e gim barato.

Segue o enterro.

Mais tempo se passou e fico sabendo da mudança de endereço. Um charmoso espaço na rua Felipe dos Santos que antes abrigava o aprazível Ficus.

A áurea do lugar mudou. O atendimento se profissionalizou, o cardápio deixou os penduricalhos de lado e focou no menu correto, clássico e na medida. Minha primeira incursão lá foi em noite de turma e algazarra, dessas que você petisca algo sem prestar atenção porque não pode perder o assunto.

Voltei essa semana, municiada do volcher gentilmente cedido pelo confrade @jorge (tks!), do grupo Restaurantes de Belo Horizonte, e impulsionada pela curiosidade de saber que o chef Alain Patrick Ducasse (francês, xará do compatriota “trimechelado” e ex Teste Vin) havia reformulado o cardápio evidenciando os bons e arrebatadores clássicos franceses.

O cardápio atual está convidativo, daqueles que gera dúvidas cruéis e escolhas sofridas que implicam em sentimentos de perda imediatos… Magret de Canard ou Coq au vin?

Queria ter somente esse tipo de incerteza na vida.

Pedidos feitos e segue a dança de taças cheias sob o ritmo da insensatez.

Entradas compartilhadas: uma tortinha de queijo de cabra com mel trufado que dava vontade de desfazer a amizade só pra poder comer sozinha. Muito pequena (tamanho da palma da mão) mas inversamente proporcional ao tamanho estava o sabor. Olímpico!

Stake tartar clássico, com gema pra misturar na hora, bem acompanhado das tradicionais french fries, sequinhas e crocantes. Gostoso, mas poderia ser melhor condimentado.

Passemos aos principais. Steak ao poivre: ancho ao molho poivre, espinafre e batatas fritas (que foram a pedido substituídas por batatas sauté).

Filet com ovo trufado, batatas rústicas e arroz piemontese.

Chegaram os pratos e fizemos degustações compartilhadas. Garfadinhas de amor. As impressões foram unânimes, o que costuma ser difícil considerando que gosto e bunda….

As batatas souté estavam moles e gordurosas. O ancho delicioso e no ponto perfeito (cada vez que alguém serve uma carne no ponto certo em Belo Horizonte um anjo sorri e toca harpa no céu).

O espinafre era um espinafre. E o molho insonso e sem alma. Não se sentia nem a pimenta direito, um molho burocrático por assim dizer.

O piemontese, apesar de uma cor estranha, estava delicioso e valia cada quilo de manteiga envolvido.

Filet ok, batatas boas. Só.

É uma história sem fortes emoções. Queria ter contado uma extraordinária volta por cima dessas de filme da sessão da tarde…não deu. Desculpe.

Nossa D. R. terminou assim, meio picolé de chuchu.

Mas aprendendo a ver o lado bom das coisas, algo com qual a estrada (leia-se maturidade, aka “veiera” mesmo) me presenteou, posso dizer a cozinha evoluiu. Tem um formato definido e achou o seu fio condutor.

Atiçada pelas tacinhas (eufemismo hipócrita) de vinho pedi que chamassem o chef e fiz com ele quase uma entrevista sobre os novos rumos da cozinha do restaurante. Conversa devidamente fotografada por uma amiga louca que dizia fazer minha assessoria de imprensa.

Alain Patrick Ducasse

Acho que Ducasse não entendeu muito aquela cena. E nem poderia devido as discrepâncias etílicas presentes entre nós. Encerrei o papo me apresentando como “cronista gastronômica”, termo que cunhei para mim mesma, de supetão, e na hora me pareceu genial.

De resto, faltou finesse mas sobrou disposição, algo que permeia sempre os relacionamentos indeléveis.

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