Skip to content
Menu
Hanna Litwinski
  • Loja
  • Sobre mim
Hanna Litwinski

É O AMOR!

Posted on agosto 29, 2018março 13, 2019

“Que veio como um tiro certo no meu coração (…) ”. Essa canção será interpretada em ritmo de Jazz pela mais nova dupla do pedaço: Leonardo e Mateus. Vos falo, caros amigos, do novo restaurante L’amour Bistrot Cabaret. O nome me soou um pouco cafona de início porque eu ainda não tinha compreendido toda a sua pertinência.

Conheci a dupla afinada de proprietários quando tive a intenção de realizar um aniversário no restaurante deles. Foi uma prosa tão deleitosa que mais encantada fiquei, antes pela criação, agora pelas criaturas. Vou falar aqui sob o prisma da minha realidade psíquica, absolutamente ficcional, no melhor estilo “O fantástico mundo de Bobby”.

Leonardo é sério e disciplinado, foi educado num fancy internato da Inglaterra exclusivo para garotos. Lá foi homenageado e recebeu a láurea acadêmica. Sempre fez de tudo pra viabilizar as coisas e fazer as pessoas felizes. É conhecido pelo codinome de “o ninja da mediação”. Tô nesse momento lendo o Leonardo e aí chega o Mateus, a segunda voz, não em ordem de importância, mas de pontualidade. Mexe, remexe… na cadeira e na conversa. Mateus por sua vez, tem TDAH e os pensamentos dele são mais rápidos que a capacidade de os expressar, como ocorre com a maioria dos gênios criativos. Ele e as suas perguntas infinitas (há relatos não confirmados, de um professor que foi parar no sanatório), põem por terra toda a evolução do acordo que eu e Leo tínhamos feito até ali. Esse é o Mateus, arte e energia em forma de cozinheiro.

O restaurante dos rapazes é novo, a identidade dele está em construção, e é esse, o exato momento para que toda e qualquer crise existencial possa vir à tona. Sociedade, nós já sabemos, é casamento sem sexo. E a dupla tem a consciência de que, se conhecendo bem e sendo fiéis ao que acreditam, chegará longe.

Desse encontro que acabou não resultando em negócio, vamos pular para o jantar e minhas impressões do lugar antes que eu escreva uma novela completa da vida dos personagens. A casa é biscoito fino. A louça merece destaque de maravilhosidade. Taças, talheres, toalhas, guardanapos, quadros, enfeites, decoração em geral; tudo com cara de roupa de ir à missa aos domingos. O bônus vai para a charmosa e perfumosa varandinha. Chegamos, eu e meu marido e fomos muito bem recebidos e acomodados em uma mesa (dentre as escolhas possíveis) de visão privilegiada. A mesa focava para o elevador de comida por onde sobem os pedidos e para a glutona aqui, melhor vista não há. Observei que os pratos só sobem, por mais tentador que seja, louça suja nunca desce. Ali é o espaço imaculado das criações. Dessa forma, passamos a noite à voyeurizar as refeições alheias.

Para entrada pedimos, motivados por uma destas visões, uma porção de hamburguinhos, pequenos e pujantes: hamburger de ancho, cebola caramelizada e maionese trufada. Delícia a cada bocada. Aí a gente segurou o entusiasmo e mesmo que em ordem inversa, quis conhecer o couvert da casa. Surge então uma pedra pintada de cores e sabores numa linda configuração que me fez lembrar do icônico Alinea de Chicago (vale googlar pra quem não conhece). Terrine, salmão, creme azedo, pastinhas, redução, telhinhas…um verdadeiro composê de delicinhas; os pães precisam melhorar.

Nesse momento, o trio jazzístico começa a tocar.  Então se faz uma conexão cósmica imediata, conduzida pela voz macia e firme, sem nenhum maneirismo ou nota inconveniente da Adrianna (lógico que fui tietar a moça depois) com o meu coração, “frechado”! E eu que estava preocupada com o volume da música que mesmo sendo estupenda jamais pode competir com o som das conversas, me tranquilizei e fui no embalo. Tudo certo e em harmonia graças a um bom tratamento acústico, acredito.

Então é chegado o apogeu da noite; mas antes dele vamos pedir outro vinho. Não me julguem, mas em noites de esbórnia que se danem os bons modos! Depois de muito oscilar, arrepender e hesitar (por desejo de ter a fome e dinheiro abundantes para mandar descer todo o cardápio) elegemos os nossos principais: Pato ao tucupi, arroz de jambu, farofa paraense e molho de pimenta cumari pra ele. O marido que é cozinheiro dos bons, detalhista e crítico da muléstia, proferiu a sentença: “o melhor pato desse gênero que já comi!”  E eu… eu nada! Boquiaberta, me calo seguindo a sábia sugestão do rei Juan Carlos, impactada pelo comentário dele.

Minha escolha foi o Arroz à Amado; um arroz feito com polvo, banana da terra e castanhas, banhados no leite coco e dendê. Vixe maînha… o sabor por garfada era maior que a densidade demográfica de Hong Kong. O polvo (ingrediente pegadinha), estava na nossa avaliação, fora do ponto. Esse molusco tinhoso tem dois pontos de cocção, o primeiro em torno de 5 minutos e depois só prá lá dos 40. No tempo curtinho tem-se a perfeição, depois fica fácil perder a textura.

A noite já estava doce por demais, então resolvi dispensar a sobremesa, mas ela não me escapará da próxima vez. Embriagada de sabor, música, beleza e álcool mesmo; avistei o cozinheiro maluquinho no salão e sem titubear, tasquei-lhe um abraço: Obrigada Mateus por todo L’amour ofertado (quando o vinho encontra com a admiração é terreno fértil para a impulsividade). Desejo a essa dupla consonante, Leonardo e Mateus, que esse bailado prospere e floresça, e que a casa possa fazer muitas pessoas felizes como eu fui naquela noite.

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts recentes

  • Maria Verdade
  • De luz e curvas são feitas as casas e as mulheres – Parrilla Paganini
  • Uma casa de amigos – La cucina di Piero
  • Tôco Maravilha
  • E o salário?

Comentários

  • Anônimo em Tôco Maravilha
  • Anônimo em Tôco Maravilha
  • Claudia Coelho em Tôco Maravilha
  • Liliana em Tôco Maravilha
  • Bruno Ramalho em E o salário?

Arquivos

  • outubro 2025
  • junho 2022
  • maio 2022
  • abril 2022
  • fevereiro 2022
  • janeiro 2022
  • dezembro 2021
  • novembro 2021
  • maio 2021
  • abril 2021
  • março 2021
  • fevereiro 2021
  • janeiro 2021
  • dezembro 2020
  • outubro 2020
  • setembro 2020
  • agosto 2020
  • julho 2020
  • maio 2020
  • abril 2020
  • março 2020
  • janeiro 2020
  • novembro 2019
  • junho 2019
  • maio 2019
  • abril 2019
  • março 2019
  • fevereiro 2019
  • janeiro 2019
  • dezembro 2018
  • novembro 2018
  • outubro 2018
  • setembro 2018
  • agosto 2018
  • julho 2018
  • junho 2018
  • maio 2018
  • abril 2018
  • março 2018
  • fevereiro 2018
  • janeiro 2018
  • dezembro 2017

Categorias

  • Crônicas Gastronômicas
  • ECOS
  • Egotrip
  • Guaja.cc
  • outros autores
  • Restaurantes
  • Sem categoria
  • Textos
©2025 Hanna Litwinski | Powered by SuperbThemes & WordPress