Hoje sonhei com a Fernanda Young. E foi exatamente como eu acho que seria, se esse encontro tivesse acontecido na real. Ela linda, é claro. Cabelos curtos, pretos, fartos e muito bem assentados. Indefectível numa roupa listrada (eu certamente influenciada pela capa do Pós-F) acrescida de brilhos, texturas e babados. Uma marinheira cancan, numa composição toda ela que caso a gente tentasse imitar, certamente se estreparia.
Eu de boca aberta ouvindo essa mulher falar, gesticular e gargalhar um riso tônico. Fernanda, encantadora de gente. E no sonho, embora eu estivesse muito próxima dela, ora num cenário de debate meio programa de entrevistas, outra, trivialmente fazendo as unhas na manicure ao lado; eu não conseguia me dirigir a ela, falar com ela.
Na ocasião da morte da Fernanda, Duvivier escreveu um texto lindo dizendo que nunca disse nada sobre a admiração que tinha por Fernanda porque simplesmente não sabia se comportar ao lado dela. Se em sonho eu paralisei, pra valer eu provavelmente teria me borrado (o rímel, as calças ou ambos).
Fernanda magnética, desde muito representou pra mim um horizonte que a liberdade excita. Agressividade e doçura compactadas em ironia. Originalidade e muita coragem. De se impor, expor e repensar. Nesse buraco de certezas fabricadas em que estamos metidos, acintosamente mentirosas e letais, a falta da voz da Fernanda é ainda mais penosa.
Os cafonas furam a fila da vacina, colecionam recordes de óbitos, são enganados por outros picaretas e vacinados com soro, fazem cruzeiro pra filmar índio e quebrar o tédio, querem abrir templos pra amansar o gado, sabotam medidas de proteção e promovem falsos tratamentos, deixam o povo morrer a esmo: de fome, de crença e asfixia. Acredito que eles nunca foram tão funestos; sinistros mesmo, Fernanda. E parece que tá todo meio catatônico, atordoado e atormentado demais com sua tragédia particular pra puxar o coro da indignação, da repulsa e ira pelo o que tem sido feito de nós.
O que eu não consegui te falar no sonho, elaboro aqui em forma de pedido: Fernanda, emana daí sua bravura, audácia e esperança. Afinal, precisamos nos recompor e cuspir essa repulsa anestesiada na cara dos cafonas. Um sonho? Que a gente comece a investir-se de Fernanda.

Que todos os seus sonhos ecoem, Hanna Catarina!
Os nossos Amora! De justiça e humanidade.