Skip to content
Menu
Hanna Litwinski
  • Loja
  • Sobre mim
Hanna Litwinski

Globo da morte: game over, suas vidas acabaram

Posted on maio 24, 2021julho 5, 2021

Eu perdi a elegância, o recato e quero que o bom-senso vá pro raio que o parta.
Eu não vou mais enfrentar essa pandemia como “o idiota entocado”, e aceitar com a devida moderação o que tem sido feito de nós, nesse espetáculo macabro.

A minha indignação, sinto dizer, era contida por uma barreira da Vale que se rompeu hoje, mas isso acontece com uma boa frequência, né? E sempre a culpa não é de ninguém.

O negacionismo não é negociável. É uma guerra e você foi convocado, não pelo tio Sam. Mas pela dignidade humana que existe em você. Mesmo que seja pouca, encoberta ou confusa. Ela fez esse chamado e você há de responder pra sempre, por aquilo que escolheu defender. E pela não escolha também. E isso ficará registrado, assim como o que ocorreu no holocausto, e havemos de relembrar, diariamente, pra que nunca mais aconteça.

Porque nós, que somos feitos de gente, temos memória. Não somos essa choldra que depõe na CPI do deboche que, com o rabo resguardado, vai lá rir do meu cabelo (como se diz aqui em Minas) e dizer que nunca viu, nem comeu e nem ouviu falar. Viramos a república do diz e desdiz, e do disse-me-disse plantado, financiado e calculado para que o circo esteja armado.

Mas deixaram faltar pão e o circo não tem sido mais tão engraçado, principalmente quando morre o irmão ao lado. O último espetáculo de ontem, o globo da morte, não fez muito sucesso. Talvez o ronco das motocicletas tenha sido disparatado demais a ponto de lembrar outro som: o som do murmúrio de quem busca o ar que não vem.

Também foi tentado este número, que se fique registrado tamanho empenho. Uma pantomima hedionda de um doente tentando respirar. Sr. Bolsonaro inclua mais essa na sua extensa lista de incompetências e bestialidades: o senhor é um grande canastrão.

Assim como o sua trupe, cujo número principal no picadeiro é o da intimidação. Até o 04 que era só o dono da bola com quem ninguém queria brincar até outro dia, já apresenta o seu próprio show. Acho que se chamava show do milhão, não sei, a gente se confunde com as performances, são muito parecidos na essência. Aliás, “próprio” não é a palavra mais adequada para a exibição dessa trupe, a gente sabe bem que essa milícia é muito unida, e também muito ouriçada. Ato falho: família.

Escrevo porque não consigo mais ser uma palhaça, assim tão simpática. Não estava conseguindo me comunicar com as pessoas que estavam na plateia, principalmente com aquelas que aplaudiam com muito fervor. Por vezes eu pensei: coitada dessa plateia! Estão sendo ludibriados por um espetáculo pra lá de mequetrefe. Alguém os alerte, por favor!!! E muitos fizeram isso. Mandaram até instalar um letreiro luminoso com um número progressivo, assustadoramente progressivo que hoje mostra 449 mil mortes.

O número foi crescendo mais que o pé de feijão, estuporou e deixou de ser número. Ele transumanou e passou a ser tia, a mãe, o filho, o amor de alguém. E a plateia do circo dos horrores foi ficando esvaziada. Não dava mais pra rir, ou dá um rolê de jet-ski com essa desgraça no peito.

E aí veio gente pedir desculpas, nada mais humano que isso, não é ? Disse que achava que o circo iria promover a felicidade do povo. Que o circo pregava os valores da família e do cidadão de bem. E acima de tudo, que era um circo honesto.

Mas outra parte da plateia ficou ainda mais inflada. E começaram a mugir pra fazer muito barulho e pra que ninguém percebesse que não eram mais tantos e que estavam só diminuindo.
E aí, nesse ponto eu percebi que se os aceitasse seria como se ao lado deles eu estivesse sentada. E aplaudindo. E retomei uma lógica simples que virou cartaz de passeata, e que já tinha me acudido antes. Resolvi pegar toda a tristeza que me causava esse show funesto e transformar em fúria.
É verdade, pra não ficar triste é preciso estar puto. Eu estou transbordando de raiva dessa trupe e seus espetáculos que acha que vai fazer um Brasil de idiotas.Eu tenho asco, nojo, desprezo pelos protagonistas do show e por essa plateia cativa.

Não tem mais tolerância, nem política de boa vizinhança. Me recuso a ser eu, a cativa da barbárie, da mentira e de toda essa imundice. Nem o pastor, nem o profeta hão de imperar. Comigo não, vilão!

Amanhã será um novo dia porque escolhemos fazer dele diferente. Mesmo que uns não queiram (ou possam), será de outros que farão, o novo dia raiar.

2 thoughts on “Globo da morte: game over, suas vidas acabaram”

  1. Bruna disse:
    maio 24, 2021 às 7:06 pm

    Você é sensacional!

    Responder
  2. Herica Pasqualini disse:
    maio 26, 2021 às 4:13 pm

    Texto maravilhoso

    Responder

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts recentes

  • Maria Verdade
  • De luz e curvas são feitas as casas e as mulheres – Parrilla Paganini
  • Uma casa de amigos – La cucina di Piero
  • Tôco Maravilha
  • E o salário?

Comentários

  • Anônimo em Tôco Maravilha
  • Anônimo em Tôco Maravilha
  • Claudia Coelho em Tôco Maravilha
  • Liliana em Tôco Maravilha
  • Bruno Ramalho em E o salário?

Arquivos

  • outubro 2025
  • junho 2022
  • maio 2022
  • abril 2022
  • fevereiro 2022
  • janeiro 2022
  • dezembro 2021
  • novembro 2021
  • maio 2021
  • abril 2021
  • março 2021
  • fevereiro 2021
  • janeiro 2021
  • dezembro 2020
  • outubro 2020
  • setembro 2020
  • agosto 2020
  • julho 2020
  • maio 2020
  • abril 2020
  • março 2020
  • janeiro 2020
  • novembro 2019
  • junho 2019
  • maio 2019
  • abril 2019
  • março 2019
  • fevereiro 2019
  • janeiro 2019
  • dezembro 2018
  • novembro 2018
  • outubro 2018
  • setembro 2018
  • agosto 2018
  • julho 2018
  • junho 2018
  • maio 2018
  • abril 2018
  • março 2018
  • fevereiro 2018
  • janeiro 2018
  • dezembro 2017

Categorias

  • Crônicas Gastronômicas
  • ECOS
  • Egotrip
  • Guaja.cc
  • outros autores
  • Restaurantes
  • Sem categoria
  • Textos
©2025 Hanna Litwinski | Powered by SuperbThemes & WordPress