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Hanna Litwinski
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Hanna Litwinski

O CONTO DO GREGÓRIO

Posted on maio 20, 2020maio 20, 2020

Parte 1 – MARIA (Ribeiro)

Todo mundo elege seu venerável particular e eu, desde muito cedo, escolhi cultuar Maria. Sim, ela é cheia de graça, justa, avariada, real, politizada, combatente das injustiças e a melhor combinação de franja e boca que existe no mundo. Talentosa e exibida. Carente e amiga. Mulher de arrebatamentos, de olhos faiscantes e mente atormentada. Maria mãe de João e Bento. Maria amiga dos amigos, dos amigos dos amigos, dos ex e das mulheres e filhos deles. Maria cobre todos com o seu manto gentil em troca de destaque afetivo e reciprocidade. Não pense você que o amor de Maria é abnegado, isso jamais. Ela vai querer sempre estar no holofote da sua atenção. E sempre vai te pedir mais amor, porque é disso que ela se alimenta. Mas não se preocupe, ela devolve aos baldes, trata-se, portanto, de um excelente investimento.

Um dia vieram a BH os três mosqueteiros da literatura apresentar um projeto bacana; agora absolutamente necessário e vital para a possibilidade de próximos capítulos melhores: VOCÊ É O QUE VOCÊ LÊ. Maria, Xico e Gregório.

Que trio! Falava pra mim mesma, incrédula com os ingressos na mão. Dia marcado, me vesti pra Maria. Quem é devoto estabelece uma comunicação subliminar com o objeto venerado. Fui de calça jeans, (Maria descolada, nada Paty) e uma camisa de babados (Maria romântica) com estampa de baratinhas (Maria criativa). Na mão um texto meu recém escrito, bem amassado que eu nem julgava o melhor, mas talvez fosse o mais empático.

Fila de fotos pós espetáculo, chega a minha vez. Pulo nos braços dela me apresento com o nome de guerra do Insta. Ela me acolhe, Maria é generosa.

– HannaCat! Ela diz – te adoro! Que bom te encontrar aqui.

Então seguiu bonitinho o script que eu roterizei:

– Mas peraí hannacat… que blusa maravilhosa é essa? Quero uma, de onde é?

Eu com o sorriso escorrendo de satisfação, respondi que enviaria de presente pra ela.

Na saída entreguei meu texto, sem nenhuma pretensão. Já estava chapadinha de endorfina, não precisava de nada mais. Mas Maria é assim, dê e receba amor. Ela passou a me seguir no Instagram e disse que o texto era muito bom e que eu escrevia lindo! Linda é você, musa, absoluta… quis retrucar e partir para o fanatismo primitivo, mas contive e fingi costume.

Parte 2 – GREGÓRIO (Duvivier)

Aconteceu recentemente na minha cidade, BH, a anulação de uma prova em razão de uma crônica escrita pelo Gregório Duvivier: “O único jeito de não ficar triste é ficar puto”. A escola que gerou o quiproquó é uma das mais tradicionais da cidade e, portanto, alinhada com esse Brasil bizarro, que se põe em função de formar “cidadãos do bem”, e assim afastá-los da ideologia de gênero e demais embustes que ameaçam corromper o seio da família brasileira.

Mas Minas sempre foi resistência, e tão logo formou-se um movimento defendendo a liberdade da educação e repudiando a censura nas salas de aula. Fui parte ativa desse movimento, subi no carro de som, fiz discurso com cara de doida “a la Paschoal” e tive efetivamente minha carteirinha de comunista selada, registrada, carimbada e rotulada. No portal que publico meus textinhos, escrevi sobre o lastimável ocorrido em versos e rimas pra afastar minha tristeza e me agasalhar de indignação.

Oportunamente Gregório viria a BH dali duas semanas apresentar Sísifo (genial, me permitam dizer) e convocou a galera reaça a se juntar na praça para fazer o que gente civilizada faz: conversar, argumentar, ponderar e se preciso for relativizar; ao invés de mandar ceifar.

A praça estava linda e cheia de gente interessante, borbulhante de ideias. Os ceifadores não apareceram por lá, talvez o acesso fosse difícil, uma vez que o encontro foi marcado na zona leste. No meio daquilo tudo surge o pequeno grande Greg, puxa o celular do bolso e lê um texto arrebatador retratando a real cara das Gerais, de Rosa, Drummond, Sabino, Adélia e Carolina de Jesus; o estado Inconfidente, mãe de todas as liberdades. Chorei de emoção e coloquei aquele menino gênio ao lado, não; logo atrás de Maria na minha escala de adoração.

O moço já havia lido meu texto, e por mensagem disse ter gostado. Como me deu confiança, já fui logo emendando um pedido: Gregório, você poderia levar um presente pra Maria? É coisa pequena, não vai ocupar muito espaço. Ele aceitou de pronto e marcamos de entregar na praça.

Cheguei até ele bisonha, grunhindo baixinho. A recepção foi tão efusiva que fiquei apastelada:

“Cara – ele dizia -você é a Hanna?”  (ele, só olhos vidrados tipo um Gremilin que fumou pedra).

“Você escreve muito bem!” – e me abraçava efusivamente – “li seu texto, amei!”.

“Sou seu fã” – oi?? – “Não para nunca de escrever”.

Consegui sair do estado catatônico só porque tinha uma missão maior a cumprir.

Sem toda a graça do mundo pedi que entregasse a sacolinha à Maria, e claro que ele não perdeu a oportunidade:

– “Nossa, pensei que era pra mim”. Piadista ele, sorriso amarelo eu.

Parte 2.2 – O PRESENTE

A minha estratégia era deixar o presente mais fofo e engraçadinho para que aumentassem as chances de chegar ao destinatário. A camisa das baratinhas de babado foi embrulhada e perfumada, e acomodada dentro de uma sacola ecorreta bem simpática, com um bilhetinho endereçado ao portador que dizia:

-Gregório, só peço a você um favor, se puder. Finge que sou seu Caderno e não me esqueça num canto qualquer.

Fala a verdade: fofo, não é?

Parte 3- XICO (Sá)

Vi esses dias no perfil do cabra que ele vai dar um curso sobre “crônica do cotidiano” prometendo histórias, dicas e macetes. Acredito que fui a primeira inscrita, sem pestanejar. Crônica é o jeito que eu comunico com o mundo. Tudo que me importa, eu penso e elaboro; vem e vai em formato de crônica. Rapaz, imagina a oportunidade de trocar ideia com o mestre dos mestres “O Rimbaud do Cariri” (parafraseando MRP)? O pai da Irene, na minha singela opinião, consegue como poucos colocar o humor no encaixe exato, mesmo se o tema for sisudo. Ele ri de si mesmo, ele ri da vida e das bestices humanas. Um estilo adorável, atônito, debochado e sabido. Quem sabe eu não me arrisco e acabo pegando um xêro do estilo formidável desse homem?

Aprender com o perito era a intenção genuína ao fazer a inscrição no curso. Mas quem disse que intenção tem que ser uma só? Tem pelo menos a segunda, que geralmente é a mais mequetrefe delas. Pensei no caso do desaparecimento do babado das baratas, inevitável fazer a conexão com o trio versado errante de outrora. Daí concluí que melhor que pedir ajuda para o repórter secreto do Fantástico perguntando – Cadê o presente que estava aqui?  – era na oportunidade, convidar o Xico pra ser meu Salsicha na tentativa de desvendar esse grande mistério.

Lanço aqui algumas hipóteses, a fim de escolhermos uma linha investigativa:

– Gregório abandonou o embrulho à própria sorte, ignorando a poesia do Caderno de Toquinho, do amor à arte e aos artistas, e revelou um lado vil de total indiferença à expectativa de um roto anônimo, um fulano qualquer.

– Gregório se apegou tanto ao regalo que resolveu que o presente não era digno de Maria,( ou vice versa) mas de si mesmo, e num arroubo narcisista  – ou para cortejar a amada Giovanna, quem sabe… por via das dúvidas, passei a acompanhar freneticamente a rapariga, para digamos assim, conferir o style – tomou-o pra si e desde então, metamorfoseia-se nas noites de lua cheia.

– Gregório como conhecido e ardiloso comunista, ao voltar para o Rio teve seus pertences revistados na polícia federal (que não faz a segurança da família dele nem da minha – que estranho isso?!), e teve o item apreendido por suspeita de terrorismo. Barata, dizem, é bicho que sobrevive até a bomba nuclear, “Kafta” já nos contou uma história assim. Embrulhada naquela sacola hippie de va-ga-bun-do com aquele bilhete instruindo para não ser esquecido… ah, aí tem coisa!

Se a inteligência mundial funcionasse tão bem quanto a do Weintraub nós não estaríamos passando por esses perrengues que a China criou para dominar o mundo, de acordo Cérebro?

Então, prezado Xico. As cartas estão lançadas. Posso contar com seu apoio nessa jornada? Juntos enfim desmantelaremos “o conto do Gregório” para que mais fãs inocentes não se tornem vítimas desvalidas e vejam suas oferendas se despedirem da Terra abduzidas pela nave Xuxa.

Gregório: Mártir ou algoz?

Onde está o presente de Maria?

É o que todos querem saber.

2 thoughts on “O CONTO DO GREGÓRIO”

  1. Aurelia disse:
    maio 21, 2020 às 3:44 am

    Sempre aguardando mais um conto! Adorei!
    Estou muito curiosa em saber onde foi parar a blusa da dona baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha!

    Responder

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