Ela estava de blazer e colete e explicou que queria homenagear Diane Keaton, mas não sabia dar nó de gravata. Mas tinha um nó ali, na garganta.
Não somos amigas, mas de tão obcecada que sou, e de tanto acompanhar o tanto de coisa que ela faz, acabo conhecendo, ou pelo menos achando que conheço, algumas coisas sobre ela. E não é tão difícil assim, ler essa mulher que tem um filtro meio avariado e um costume, um tanto quanto demodê de falar a verdade, sem montar estratégias. É engraçado esse negócio de “conhecer” uma pessoa. Acho que isso não tem muito a ver com proximidade física, sabe? É tão comum ver completos estranhos dividindo o mesmo teto. Ao passo que a escrita é sempre reveladora.
Eu sentei na primeira fila, no Teatro da Biblioteca Pública da minha Cidade, no Dia dos Professores para assistir à atriz/escritora/roteirista/apresentadora
/podcaster/menopower/genteira que eu amo de
de paixão falar sobre seu novo livro. Era pra ser bom, mas não foi (em total desacordo com a experiência da leitura). Ela ali no palco, beliscando um pastel triste, e dando nada além que dois pequenos goles na cerveja servida.
Maria não demorou pra entregar o jogo e dizer assim bem frugal, que não estava muito legal. Mas acredito que essa informação passou batido pra geral. Porque mesmo e apesar do, provável dia de merda que ela estava tendo, ela foi ela ali (também).E ela é irresistível.
Uma ela, com menos intensidade e sem o batom vermelho que eu adoro. Mas encantadora, gentil, inteligente, com a ironia em dia, lançando suas adoráveis piadinhas autodepreciativas/empáticas e com aquele olhar lindo que estampa a capa do seu novo livro Barbie hardcore.
O entrevistador não ajudou. Fala arrastada, embutida, questionamentos mais ou menos óbvios. Não que ele fosse ruim, mas não era bom.
A Maria respondia sem o seu atropelo característico das frases que não conseguem acompanhar o frenesi do raciocínio. Que vai abrindo os olhos e projetando a testa, o corpo, todo, que fala junto. Se perdia no meio da resposta e culpava a menopausa. Ela não estava ali. Pelo menos “inteira”, como costuma estar. E isso não tem nada a ver com a plateia ou com o evento. Eu me solidarizando internamente, pude perceber com muita clareza, o quão difícil é essa “escolha” (não sei bem se é algo realmente elegível) pela escrita autoficcional. Não tem rota de escape, parapeito ou pano de fundo. O tema inteiro ali era ELA. Criadora e criatura. Num exercício de se expor para além de se expor. Sem estar muito ok, se exibindo provavelmente querendo se encolher. Mantendo-se sentada com vontade de correr, ficar querendo fugir.
Me identifiquei, ainda mais, com essa garota-verdade. Eu não tenho nenhuma capacidade de construir personagens nos textos e também na vida. Pode ser falta de imaginação ou talvez se deva ao imenso arrebatamento que eu sinto pelo banal, o extraordinário da vida comum. Assim como Maria, acho que as pessoas e seus universos são a coisa mais interessante que existe. Por isso escrevo crônicas, pois eu sinto TANTO. Acredito que nós duas compartilhamos de uma mesma condição. Um espécie de vício incurável no grande barato-gente. Sempre no exercício de, ao ser afetadas por elas, descarregar essa cascata de energia escrevendo. Uma dopamina, aplicada na veia por uma seringa literária que se materializa em texto.
Maricota, escrevo esse texto desejando que a “bad” tenha sido passageira. E pra dizer que você provoca em mim a vontade de escrever, no Caetano a vontade de viver e que se acrescentarmos uma vontade de rir, principalmente de nós mesmos; são provavelmente, as melhores sensações que um ser humano pode provocar no outro. E não se preocupe, a Xuxa te amou, todo mundo achou lindo. Certifiquei-me de ouvir os comentários no entorno. Te dei flores, mas queria ter te dado colo.
