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Hanna Litwinski
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Hanna Litwinski

Nós, impostores do esposório

Posted on abril 14, 2019maio 11, 2020

Eu o chamo de Xu. Sim, concordo com você que poderia ser mais criativo. No início era Chá com Chuva, embora eu não seja uma tea person, sempre me encanto com a sonoridade das palavras. Deveria ter ficado Chachu, se bem que parece uma batida de funk, não sei se carregaria a dose de mel necessária aos nomes de alcova.

Dia desses fiz um jantarzinho aproveitando a ausência de filho. Mesa posta, velinhas e a melhor louça numa segunda feira à toa. Ele não entendeu nada porque não tinha o que explicar, só uma dessas gostosurinhas de casal dando rasteira na rotina. Aí inventei que era pra comemorar o nosso aniversário de casamento e o bichinho perdeu a cor. Relaxa, que eu também não sei quando é, nunca conseguimos lembrar talvez porque pareça que sempre foi.

Manhã seguinte, tinha uma mensagem com a foto da certidão. Dia 26 de março de 1999. Aí não deu pra resistir, porque datas redondas são convites irrecusáveis. Lá se foram vinte anos no registro e alguns outros a reboque. Mais da metade da vida vivida até aqui. Não me lembro como era antes de ser, não por romantismo, mas pela memória capenga e porque é muito curioso você se tornar adulto ao lado de outra pessoa tentando ser adulta também. Na verdade é bem jocoso relembrar os nossos ensaios desastrosos de parecer gente grande. Numa observação atenta desse novo mundo, fomos tentando inventar o marido e mulher, o pai e a mãe, os profissionais, a nossa cepa buscando transmitir alguma seriedade.

Que ninguém nos escute, mas acho que falhamos um pouco nessa missão de gente feita. Existe uma molecagem entre nós que não é condizente. Uma espontaneidade que seguramente pertence ao infantil. O juízo da falta de juízo. Um gosto de ineditismo mesmo depois de tanto. E essa admiração persistente, de que se alimenta, onde reside?

A sensação que eu tenho é que a gente é meio farsante. Casamento sempre me pareceu uma coisa de gente séria, austera. Pelo menos nesse ponto da estrada acho que era pra gente já ter tomado mais compostura. Mesmo depois de muitas e boas não é provável todo esse frio na barriga quando você atravessa a garagem. Ficar a semana inteira esperando a sexta chegar pra não ver mais ninguém. Fazer uma dancinha temática toda vez que a gente fecha uma viagem.

Nesse ano, no próximo dia 26, por conta de algum roteiro de sessão da tarde ocasional, estaremos em Paris fazendo uma escala. Claro que a gente não pensou nisso, porque nunca se lembrou de comemorar. Mas a vida se encarrega de tecer uma dose precisa de cafonice amorosa. Mais clichê impossível, dispenso os morangos, mas capricha no champanhe, faz favor. E pode dividir o fone de ouvido com John Denver cantando o nosso primeiro encontro. Tá valendo tudo, afinal vinte anos não foi ontem, por mais que ainda pareça.

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