Eu me alimento, sobretudo de histórias. E uma dessa monta, eu preciso registrar. Fui conhecer a Parrilla do queridão e cover dos ursinhos carinhosos, André Paganini. Não há como não se impactar com a arquitetura do lugar. Uma casa esculpida em curvas e luz. Me embrenhando pelos espaços e já com o pé na cozinha, porque intimidade é um troço complicado, fico sabendo da origem da morada.
Acontece que um homem comum, nem engenheiro nem arquiteto – porém apaixonado -projetou esse lugar de maneira que sua eleita, deficiente auditiva, pudesse ter uma ampla visão da rua. Assim desenhou a mais femininas das casas: em firmamento e sinuosidade, matérias de que são feitas as mulheres.
Instalou uma campainha de luz e entregou a obra à amada com chave banhada a ouro, repousada numa caixa de veludo. Ali criaram seus filhos e viveram seu romance, que ficou impregnado por todos os pedaços e vãos.
E muitos anos depois lá se instalaram André e Marcela. Recém-chegados e contaminados pela atmosfera vigente, começaram a construir seus sonhos de esmero: levar felicidade pra gente.
E, que fique claro! Eu disse que me alimento SOBRETUDO de histórias, mas, porém, contudo, todavia; trato meu buchinho com bastante deferência, porque de boba, nada tenho.
Por lá, me atirei num stake tartare de primeira, palitinhos puxa-puxa de muçarela, caí de boca numa fraldinha saracoteada no biro-biro maroto. Depois, como toda volúpia é fundada num excesso, troquei juras de amor com uma paleta de cordeiro para o contentamento do anfitrião, que sabendo não ser uma carne que figura no rol das minhas prediletas, empunhou seu sorriso de vitória ao me ver atracada com o osso.
E fui feliz para sempre.
André e Marcela, essa casa merece vocês (e vice-versa).
