Recentemente vivi duas experiências de viagem que eu não poderia deixar de registrar. Ambas me tocaram profundamente e me fizeram pensar bastante sobre o ato de “receber” alguém, um amigo.
Eu acredito piamente na capacidade que o ser humano possui em acolher verdadeiramente o outro. Fazer-se ninho. E, para mim isto é uma das melhores experiências da vida. Quando você é bem recebido por alguém, principalmente num território estrangeiro, é uma espécie de retorno à infância. Uma forma de enxergar o mundo pelos olhos do outro, de desbravar lugares sendo levado pela mão. Em segurança, com zelo e cumplicidade.
Os amigos acolhedores, aqueles que possuem a delicadeza de ocupar-se de você são pessoas realmente especiais. Afinal, eles nos ofertam a coisa mais importante do mundo: sua atenção. Querem saber dos seus gostos, se organizam, mesmo com todas as dificuldades da vida moderna, para estar com você e/ou para você.
Se interessam, querem que você tome o melhor café, que faça os melhores passeios, que economize o seu tempo, que fuja das ciladas e que leve daquela viagem somente as melhores coisas. É ou não é, uma espécie de maternagem?
A gente está tão acostumada nessa pauleira de mundo egocentrista e caótico que quando vive algo assim, entra numa espécie de útero. Dá uma leveza na alma pensar que você tem a quem recorrer, em qualquer eventualidade ou desejo. Saber que você vai ter acesso a atalhos e que vão te entregar em mãos, e desenhado, o mapa do tesouro. E isso não vai te custar absolutamente nada, em nenhum âmbito. Trata-se de uma doação genuína, sem nenhuma expectativa de retorno.
Aliás, a possível única expectativa criada pelo acolhedor é que você desfrute, deleite e viva momentos mais que felizes com tudo aquilo que ele pensou e preparou pra você, especialmente pra você; te proporcionando um fantasioso retorno ao status de majestade bebê.
Foi exatamente assim que me senti nessas duas oportunidades. Um mundo descortinado e mastigado para mim. Eu ali, sentadinha na janela podendo simplesmente apreciar a paisagem.
Quem tem a capacidade de ser ninho é um ser feito de muito amor, porque no final é exatamente disso que se trata. Um cicerone do bem-estar, um pintor de belas paisagens, um músico que te embala nas melhores melodias, um escultor de boas memórias.
Com o coração cheio de amor e gratidão escrevo aqui para agradecer às amigas Renata e Beth, que se fizeram casa, que seguraram minha mão para atravessar a rua, que me desejaram tantos e tantos roteiros e experiências incríveis nos curtos períodos que estivemos juntas, que só mesmo mais alguns retornos irão saldar os programas que não puderam ser vividos.
E acontece que, quando reencontrarmos, é quase certo que surgirão outros roteiros mais, numa espécie de expansão infinita de universo regido por ondas de bem-querer-mais-que-querer-bem.
Até breve, meninas. Prometo que revidarei ao próximo tudo que vivi com vocês, e espero, cheia de esperança, que ele faça o mesmo a quem der e vier.
