Buenos Aires, 30 de dezembro de 2021 a 9 de janeiro de 2022
Capítulo 3
Há algum tempo e depois de bater muita cabeça optamos por nos hospedar sempre em grandes redes de hotéis. Roteiros de charme e hotéis boutique não fazem mais parte do nosso repertório. O motivo? Porque gostamos de uma estrutura maior, treinamento profissional e porque temos hábitos mais notívagos e isso inclui uma grande disposição pra tomar uma champa com hambúrguer no quarto e repassar as aventuras e planos da viagem em curso.
A nossa escolha na Argentina, além da localização central – me desculpe os que preferem a área mais nobre da Recoleta, ou os encantos de Puerto Madeiro, mas o centro é imbatível – foi o Marriott Buenos Aires cravado no pico do obelisco. E com relação à localização recomendo fortemente, já o hotel precisamos falar mais sobre isso.
O Hotel encontrava-se em reformas, já sabíamos e nos foi pedido desculpas por la moléstia. A estrutura é ótima, e está todo renovadinho e bem cuidado. Foi realmente uma lástima a piscina coberta do rooftop estar fechada, ainda mais no verão escaldante que enfrentamos nesses dias, mas disso já sabíamos.
Optamos por um quarto grande, bem grande mesmo, 68m2 de pura diversão. Um banheiro que dá vontade de morar. E no quarto tinha uma sacada, que passou a ser carinhosamente llamada por Cacá de “ mi balcón de hipocresía”. Cacá é fumante. Com uns vinhos na caixola fuma mais que uma turca desquitada. Quando viu aquela simpática sacadinha alegrou-se pensando que era lá que tomaria sua champa resenha, fazendo bolinhas de fumaçita.
Acontece que Lechuga é uma cara correto, muito melhor que Cacá que é ariana, outra fatal coincidências entre nosotras. Daí foi perguntar na recepção se poderia fumar en el balcón. A moça da recepção (todas elas também necessitando de algum tipo de incentivo para serem mais amables) respondeu como quem fala para uma criança de cinco anos que na volta a gente compra. Algo como: Não, senhor! Aquela sacada não deve ser acessada para sua própria segurança e o nosso hotel tem a política smoke-free.
Cacá pensou com tus botonzitos, isso é conversa pra sueño de buey, se a sacada não era para ser acessada ela deveria estar trancada fiota, se Lechuga não tivesse vindo te perguntar não poderia ter adivinhado que estava colocando nossa vida em risco. Logo ignorei a segunda regra para minha exclusiva conveniência e me quedei, desde então a fumar uns cigarillos em mi balcon de hipocrisía para completo desgosto de Lechuga.
O hotel estava com pouca lotação e os serviços de café da manhã eram ok, se não tivéssemos ficados hospedados por nove noites e termos que absolutamente TODOS os dias que encarar as mesmas opções no bufê. Não rolou nem uma empanadinha marota fora do script pra fazer uma graça. De maneira que lá para o quinto dia, Cacá adentrava o recinto e era recebida pelo chefe de salão, a quem sinto ter esquecido o nome, simpaticíssimo, oferecendo de pronto fazer meu café latte em copo descartável para fumar um cigarrillo na caje já que” a senhora não é muito de desayuno”. O bar do hotel trabalhava com um cardápio muito reduzido – e pelo visto acabamos com o estoque de espumantes D.V. Catena deles que ironicamente repuseram quando estávamos indo embora, uma vez que nos avisaram com carinho – mas muito bem executado e saboroso. O serviço de quarto encerrava por volta de 22h – diferente do que era anunciado no site que dizia, que em função da pandemia o serviço era 24h trabalhando com algumas restrições. As restrições eram TODAS. Um dia bateu aquela rebordose de dormir de tarde e acordar de ressaca e com fome de adolescente. Tentamos descolar uma singela medialuna por lá, pero no hay. Resolvemos a nossa macarena caminhando cinco minutos até a padroeira dos viajantes, santa Mc.
A habitação contava com amenidades veganas o que eu achei super. Mas não havia cotonetes ou lixa de unhas. Acreditei ser um engano da camareira de maneira que deixei um bilhete pra ela, usando uma caneta achada no fundo da bolsa – coincidentemente de uma rede de hotéis concorrente – pedindo os cotonetes, anotado no verso de um porta-copos uma vez que não havia um só item de papelaria também.
No outro dia, a camareira muy amable, me respondeu em outra bolacha que não havia cotonetes, lo sinto e corrigiu (obrigada, faço isso e Cacá gosta que lhe façam) meu espanhol capenga. Pessoal, como a capital mundial dos psicanalistas não dispõem de ferramentas para limpar os ouvidos? Por outra vez, acionei a mocinha distraída da recepção em busca de uma “lima” de unhas. Ela já de pronto disse que seria difícil, mas que me avisaria da possibilidade.
Cheia de esperanças e com uma unha lascada por qual passavam TODOS os fios do meu cabelo no banho fui esperar ser premiada. A resposta não veio e a pomba da Cacá empezada a girar, desci para ver o qualequeé e não encontrei mais a senhorita na recepção, havia encerrado seu turno e limado minhas expectativas. Resolvi encarnar a Cacá paz e amor e corri numa Farmacity pra a minha literalmente, própria conveniência.
Ah! A bancada e a a hipocrisia – minha e da moça conversa-para-boi-dormir, era sobre isso que eu queria falar. Optamos por passar a virada de ano na festa do hotel e foi uma noite muito bacana, farta e com uma trilha sonora de sacudir a sapucaia. A festa aconteceu num elegante salão onde pudemos desfrutar de uma bela cena (jantar), mas não estava preparada para a outra cena que viria a seguir. Eis que, anexo a esse lindo salão foi montado em uma sacada ampla, uma estrutura mais descontraída, mas não menos elegante, para continuar a baladhinha que prometia emplacar até às 4 da matina. Nos acomodamos num sofá riquíssimo de couro e capitonê na cor Whisky, enquanto aguardava meu negroni ser feito, apenas para finalidades Instagramáveis. Quando de esgueio vejo duas senhoras fumando ao meu lado. Cacá não é discreta, não mesmo. Foi até bastante rude ao levantar as duas mãos pra chamar um garçom desavisado e perguntar no tom dos bons drinks se ¿Puedes fumar aquí? As moças não gostaram da atitude deselegante de Cacá, mas elas não sabiam da história entalada do balcon, dale?
O simpático garçom respondeu que sim e imediatamente trouxe um cinzeiro, não um cinzeiro portátil, mas um grande cinzeiro de pedestal de metal e o estacionou ao lado do nosso divã particular. Não foi preciso dizer nada, Lechuga já falava a língua dos anjos e me olhou consternado: smoke-free é um carajo!
Cata a dica de Cacá: A localização central além desses benefícios que listei, permite acesso mais fácil à taxis e corridas mais baratas. Voltamos de alguns bairros mais à noite e foi bastante difícil encontrar um táxi ou qualquer tipo de comércio aberto. No centro é absolutamente incrível, a cidade não dorme mesmo. Deixa NYC no flip flops. Buenos Aires, apesar da crise que assola o país e muita gente dormindo nas ruas (tal como acontece por aqui) continua uma cidade muito segura.

Adoooroooo ler seu dear diary!