Buenos Aires, 30 de novembro de 2021 a 9 de janeiro de 2022
Capítulo 4
O primeiro dia serviu para reconhecimento de território. Saímos deixando a cidade nos levar, do jeito que uma viagem que promete histórias, tem que começar. A intenção era um jantar porteño tradicional no El Preferido de Palermo, um casarão histórico e charmoso do bairro. Não conseguimos mesa e seguimos pelas animadas ruas do bairro. Entramos no Borges, bar/restaurante/livraria e casa de Jazz. Havia uma apresentação dali a meia hora e a moça simpática logo ofereceu fazer uma promoção da entrada de dois por um, cerca de 30 reais para o casal. Pra gente que é brasileiro acostumado com pequenos golpes, a gentileza não deixou boa impressão.
Mas, que nada! Um jazz como esse tão legal, você não vai querer que ele chegue no final, o… ariá-raió. Foi um verdadeiro espetáculo. Piano, percussão, violoncelo , assovios (exceto Lechuga que não sabe assoviar), batuques e participação empolgada da galera. Uma noite contagiante! Saímos de lá” bonitos e sáborosos” como entoava o refrão da música que só a gente parecia desconhecer. Quando em BA, dê pinta por lá.
Hotel, champa da resenha, balcón da hipocrisia. O Ano Novo é amanhã, o que esperar de BA? Logo entendemos que a cidade se divide em baladas mais discotecas (como se vê pelo emprego do termo e a névoa de naftalina formada, não era muito nosso mood) e festas all inclusive, nos principais hotéis da cidade. Como soubemos que a captura de um taxi pós meia noite é da ordem do impossível nessa fecha e já que não temos muito talento para pilotar abóboras, resolvemos quedarmos em nossa própria ubicación: Marriot Buenos Aires.
Fomos atrás dos “arbolitos” ( as árvores somos nozes) trocar nossos dólares. Arbolitos são funcionários das casas de câmbio que ficam às pencas pelas ruas da região central, entoando o mantra: dólar, dólar, casa de câmbio, dólar, real. O câmbio paralelo é o oficial, não tem como fazer de outra forma. Arrume o seu arbolito de estimação e viva sua Carolina Ferraz portenha, porque sim baby, na relação cambial você é RYCAH! 33 pesos pra 1 dólar, com pequenas variações. Dá pra se sentir um puta deputado: o volume de dinheiro ocupa mala e cueca e é bonito e saboroso.
A noite de ano novo do Marriot saiu por cerca de R$ 700 reais (pós-arbolitos) por pessoa e valeu cada pesito. O jantar tem aquele ar “cafona elegante”, se é que me entende. Um grande salão, muito bem decorado e iluminado, bufê infinito, champanhota e vinhão crème de la crème. Música de elevador para a cena, mas depois o pau prometia quebrar – como de fato tocou-lhe no carrinho – no maxi balcón da hipocrisía. O DJ a quem Cacá foi cumprimentar, por supuesto, tinha copiado a minha melhor (com salpicos do pior também) playlist. Portanto, podendo fumar no smoke-free hotel, dançando a playlist da minha casa, fingindo tomar drinks Instagramáveis, descansando os cambitos num sofá capitonê whisky de biblioteca londrina, posso dizer que tiro meu facinator para essa festa cujo status foi: LENDÁRIA. Os restos mortais da suíte 1319 encontrados no primeiro dia do ano são evidências irrefutáveis.
Perdeu o capítulo 3? Leia aqui:

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