Skip to content
Menu
Hanna Litwinski
  • Loja
  • Sobre mim
Hanna Litwinski

A mãe perdida

Posted on janeiro 12, 2022janeiro 12, 2022

Assisti ao filme “A Filha perdida” disponível na Netiflix, e como todos que são vivos, tenho muitas opiniões sobre ele. Não se passa incólume por esse filme (muito menos pela maternidade) e cada um sabe onde o sapato aperta.

Achei de uma beleza estonteante, cheio de simbologias que me foram permitidas enxergar mais claramente através da crítica primorosa da Isabela Boscov**. Aliás, fez uma enorme diferença assistir ao filme depois de ter assistido à análise dela. Recomendo fortemente que faça o mesmo. Tenho adorado recomendar “fortemente” é a minha mais nova mania que combinada com ironia fica ainda mais gostosa.

Estava ontem ouvindo no rádio o luxuoso Professor Pasquale se queixando do quão difícil está usar de ironia para se comunicar atualmente. E que ironia seguida de explicação é transar sem gozar. Isso ele não disse, mas acredito que concordaria.

Não entrarei na análise sobre maternidade/sensualidade/culpa/abandono/
carreira/sobrecarga feminina/trabalho invisível não remunerado e tantos mais que o filme retrata de maneira tão sensível. Outros muito mais capacitados já fizeram isso.

Quero na verdade fazer um pequeno recorte da maternidade, ilustrando com um conto que escrevi na minha cabeça enquanto obsevava uma cena comum da maternagem alheia. Eu olhava através do vidro da janela de um restaurante em Buenos Aires a seguinte cena: num prosaico domingo uma família almoçava. O pai se ocupando do bebê e a mãe de uma filha, que calculo eu, tenha por volta de uns 18 meses. O garçom traz os pratos como costumamos dizer aqui em casa, aquecidos para o seu próprio conforto.

A menina, como não podia deixar de ser, logo avança com sua mãozinha aflita sobre o prato. Nós descobrimos o mundo através das mãos e quando nos deixam em paz, através da boca que sempre será meu sentido predileto da vida. A mãe a intercepta de pronto, toda mãe é um pouco ninja. Fala e faz gestos indicando pra pequena que está quente. A criança em menos de dois segundos investe na segunda tentativa. O que seria da humanidade sem a rebeldia? Agradeço por ela e por todos nós mentalmente. A mãe dá-lhe um outro toco e comida soprada na boca, o que a distraí para sempre da intenção, uma vez que não existe nada mais absorvente que o mundo dos sabores, principalmente os fritos.

Nesse momento vem o conto na minha cabeça, preconceituoso e com um quê de absurdo assim como são todos os temas que atravessam a maternidade:

– A criança tenta tocar um prato quente pela segunda vez. A mãe argentina a repreende seguidamente e enche-lhe a boca para distração.

– A criança tenta tocar um prato quente pela segunda vez. A mãe francesa deixa e a criança não insistirá mais nenhuma vez, pelo menos durante aquele almoço.

– A criança tenta tocar um prato quente pela segunda vez. A mãe brasileira sopra o prato para que a criança possa tocá-lo enquanto a criança berra. A mãe acredita (fortemente) que quem não faz isso pelo seu filho é uma mãe desnaturada.

** https://www.youtube.com/watch?v=AP4kQN5lWMw

4 thoughts on “A mãe perdida”

  1. Ana disse:
    janeiro 12, 2022 às 3:45 pm

    Maravilhoso

    Responder
  2. maria fonseca disse:
    janeiro 12, 2022 às 9:46 pm

    exato, ser mãe com certeza não é um ato de abandonar seus princípios e passar a viver o dos filhos, ser mãe é continuar a ser mulher apesar de ser mãe!!! ET: não é uma tarefa fácil!!!

    Responder
  3. Marina disse:
    janeiro 14, 2022 às 1:45 pm

    E ai da mãe brasileira que ousa descumprir o protocolo nacional… Senta que lá vem julgamento, minha filha!

    Responder
  4. Luiza Angélica disse:
    janeiro 17, 2022 às 2:14 am

    Hanna, gostei muito do seu texto que focou o filme e expressa seu escrito com o lado reflexivo, inteligente e cômico, com ironia arrojada e com graça ao mesmo tempo. Ficou interessante o seu foco numa cena cotidiana, familiar e comparação de mães de países diferentes. Gostei “fortemente “.

    Responder

Deixe um comentário para maria fonseca Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts recentes

  • Maria Verdade
  • De luz e curvas são feitas as casas e as mulheres – Parrilla Paganini
  • Uma casa de amigos – La cucina di Piero
  • Tôco Maravilha
  • E o salário?

Comentários

  • Anônimo em Tôco Maravilha
  • Anônimo em Tôco Maravilha
  • Claudia Coelho em Tôco Maravilha
  • Liliana em Tôco Maravilha
  • Bruno Ramalho em E o salário?

Arquivos

  • outubro 2025
  • junho 2022
  • maio 2022
  • abril 2022
  • fevereiro 2022
  • janeiro 2022
  • dezembro 2021
  • novembro 2021
  • maio 2021
  • abril 2021
  • março 2021
  • fevereiro 2021
  • janeiro 2021
  • dezembro 2020
  • outubro 2020
  • setembro 2020
  • agosto 2020
  • julho 2020
  • maio 2020
  • abril 2020
  • março 2020
  • janeiro 2020
  • novembro 2019
  • junho 2019
  • maio 2019
  • abril 2019
  • março 2019
  • fevereiro 2019
  • janeiro 2019
  • dezembro 2018
  • novembro 2018
  • outubro 2018
  • setembro 2018
  • agosto 2018
  • julho 2018
  • junho 2018
  • maio 2018
  • abril 2018
  • março 2018
  • fevereiro 2018
  • janeiro 2018
  • dezembro 2017

Categorias

  • Crônicas Gastronômicas
  • ECOS
  • Egotrip
  • Guaja.cc
  • outros autores
  • Restaurantes
  • Sem categoria
  • Textos
©2025 Hanna Litwinski | Powered by SuperbThemes & WordPress